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Philippa Mollet – Minhas peças são um convite intemporal para a conexão

Nesta série de entrevistas, a Ceramic Art Magazine trará histórias de ceramistas que estão revolucionando o cenário da cerâmica contemporânea, com trabalhos inovadores e acima de tudo, saber um pouco do início, inspirações e novidades do que cada um destes brilhantes artistas estão fazendo no atual panorama da cultura portuguesa.

 

Artista: Philippa Mollet  | Philippa Mollet 

Phillipa Mollet a produzir peças em atelier

 

Foi graças a uma oferta de um workshop de pintura em azulejo em 2015, que a artista Philippa Mollet redescobriu esta paixão para criar e conectar. “Nessa altura, surpreendi-me com o meu traço, as cores dos óxidos e vidros da azulejaria tradicional, mas, sobretudo, rendi-me aos Deuses da Mufla.  Senti que espelhava a minha necessidade nessa altura de liberdade e de me render à vida.  Para mim esse ato de fé foi uma espécie de ritual de passagem pelo fogo para a Idade de Criatividade” – conta Philippa.

“Desde então tenho vindo a aprender e experimentar diversas técnicas e meios para melhor expressar as minhas vivências.  É no meu atelier que regresso à liberdade da minha infância para desvendar todos os estímulos do mundo exterior, dos relacionamentos e dos acontecimentos aparentemente banais da vida e tento decifrar os frágeis vínculos entre a humanidade, a espiritualidade e a natureza.  Eu acredito profundamente em ser autêntica e corajosa. Adoro um bom desafio.  Adoro nonsense e adoro brincar”!

“Em finais de 2022 os meus mundos imaginários passam para a Cerâmica onde despem as suas habituais cores vibrantes da pintura, limitando-se à naturalidade e nobreza viva deste material térreo. Passo a trabalhar apenas sombra e luz, quente e frio com a exploração das pastas a ditar a forma, sempre num movimento circular. Entre a fantasia e a memória. As minhas peças são um convite intemporal para a conexão”.

Peça: Aquário Poços dos Desejos

 

Philippa explica que o fator motivacional que a fez ingressar neste segmento, esteve ligado ao regresso à pintura e aos livros de autor. “Senti necessidade de assumir uma profundidade tridimensional no meu trabalho, da saudade da excitação da entrega ao FOGO e tinha uma saudade quase infantil da liberdade e da textura sensual do barro nas mãos”. Em 2022 a artista fez a inscrição num curso básico de construção em cerâmica onde surge um impulso de criar peças com pastas diferentes como forma de explorar as (in)compatibilidade das relações humanas.

Quando o assunto é inspiração Philippa conta que é uma pessoa apaixonada. “Amo muitas coisas. Gosto de mergulhar fundo e observar para além do superficial. Adoro caminhar na natureza e ouvir os sons da minha pisada nas diferentes superfícies, observar o pó na luz, sentar em silêncio e ouvir a chuva, a sensação do sol e do vento na minha pele ou o peso de um recém-nascido nos meus braços. Prefiro aprender pela vivência, e dedico muito tempo ao meu desenvolvimento pessoal, com foco especial em práticas somáticas como forma de explorar os meus mundos internos/externos”.

“Fascina-me a forma como cada momento me traz memórias antigas e cria novas em simultâneo, colapsando o próprio tempo. Para mim, é como descobrir uma verdade, uma peça do puzzle que decifra a minha experiência humana do mundo ao meu redor”. Atualmente, a artista explica que a fixação que impulsiona a expressão criativa é (quase sempre) o movimento da luz sobre água e como isso a ajuda a lidar melhor com a dança da luz e das sombras dentro dela própria e na humanidade.

Para mim, é como descobrir uma verdade, uma peça do puzzle que decifra a minha experiência humana do mundo ao meu redor”.

Além da cerâmica de autor, Philippa produz quadros com técnica mista em acrílico, pastel e folha de ouro sobre bases recicladas de madeira, caixas de papelão ou cartão. Na sua maioria são paisagens abstratas em mono impressão com movimento que convidam à intimidade.

 Quanto às novidades e aos projetos, a artista neste momento assumiu a gestão do atelier onde trabalha, no centro de Oeiras. O atelier é um espaço criativo com um número reduzido de artistas residentes permanentes dedicados, com a partilha de zonas comuns, incluindo um estúdio de fotografia e uma montra. Os espaços de trabalho no atelier podem ser alugados temporariamente, aos interessados. “Idealizo que seja um espaço onde os criativos, possam se aventurar em projetos que sejam demasiado grandes, sujos ou complexos, para fazer em casa! Neste momento temos lugar para mais dois residentes e contamos organizar um evento com exposição antes do final do ano”.

Peça: Aquário Poços dos Desejos

 

Além do atelier, Philipa está a trabalhar e preparar quadros e peças de cerâmica para 3 exposições coletivas – pintura para celebrar os 850 anos de S. Vicente, no Museu de S. Vicente de Fora, em Lisboa, em setembro, cerâmica no Museu da Vida de Cristo, em Fátima, em agosto. “Em outubro será uma exposição coletiva de pintura, da curadoria de Maria Balmori, em Lisboa, na Casa da Juventude Galega”. 

– Qual a sua opinião sobre a arte cerâmica portuguesa?

“Confesso que o meu contacto com a arte cerâmica portuguesa até 2022, para além de estar rodeada de belíssimos azulejos em todo o Portugal, limitava-se apenas à olaria alentejana, ao artesanato de Estremoz, Rosa Ramalho e uma mão-cheia dos grandes, como Querubim Lapa ou Manuela Madureira. Em 2023 expus no Oeiras Ceramic Art e abriu-se um novo mundo de artistas contemporâneos muito excitantes para mim, alguns dos quais tenho vindo a rever em formações e workshops recentes. Espanta-me sempre a diversidade e pluralidade das linguagens na arte cerâmica. Acho que Portugal tem uma importante tradição cerâmica reconhecida internacionalmente, recebendo já exposições prestigiada como a Bienal de Aveiro, que adorei” – conclui

 

Para conhecer os trabalhos de Philippa Mollet poderá acessar:

Instagram da artista | Philippa Mollet

Site official: https://www.artworkarchive.com

 

 

 

 

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